Maior que a dor da perda foi a atitude de caridade protagonizada pela família que autorizou a doação de órgãos de um jovem de 20 anos, vítima de morte cerebral. Agora, o coração do jovem continua batendo no peito de outra pessoa que lutava para sobreviver. Além do coração, foram captados fígado, pâncreas, rins e córneas. A captação múltipla de órgãos foi realizada na quinta-feira (12/11), no Centro Cirúrgico do Hospital de Clínicas Dr. Radamés Nardini de Mauá. Todo o processo foi coordenado pelos médicos cirurgiões da Organização de Procura de Órgãos (OPO), do Instituto Dante Pazzanese, localizado na Capital.
Médicos cirurgiões do Dante foram assessorados pela equipe de enfermagem do Centro Cirúrgico do Hospital durante todo o procedimento, que durou aproximadamente cinco horas. O coração foi o primeiro órgão a ser retirado e seguiu rapidamente de helicóptero para um paciente que aguardava internado no Hospital São Paulo. O pouso do Águia, da Polícia Militar, foi realizado no estádio do Grêmio Esportivo Mauaense. O prazo máximo para um coração ser transplantado é de até quatro horas, por isso é preciso ter grande mobilização das equipes para que o processo seja concluído com urgência e de forma articulada com o serviço receptor. Os órgãos foram destinados a pacientes do Hospital São Paulo e Hospital do Rim e Hipertensão, entre outros serviços. Pelo menos cinco pessoas foram beneficiadas com as doações.
A última captação de órgãos realizada no Nardini foi feita em 2013. O baixo número de notificações feito pelo hospital, cerca de cinco nos últimos cinco anos, é consequência do grande número de óbitos provocados por trauma neurológico grave, que são transferidos para hospitais de maior complexidade como Hospital Estadual Mário Covas e Hospital Estadual de Serraria. Estes, então, tornam-se responsáveis pela notificação. “Este caso preencheu todos os requisitos após os testes clínicos. Infelizmente nem todos os pacientes suportam essas provas de captação, por isso tornam-se inaptos para doação. E, quando estão aptos, muitas famílias ainda resistem a autorizar, por isso devemos trabalhar essa sensibilização junto aos parentes. É um grande ato de caridade, pois o paciente permanece vivo em outras pessoas que aguardam para viver”, explica a Dra. Fabiana Amaral, médica intensivista da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e autora da notificação.
A última captação de órgãos feita no Nardini foi em 2013. O baixo número de notificações feito pelo hospital, cerca de cinco em cinco anos, é consequência das mortes provocadas por trauma neurológico grave. No caso, os pacientes são transferidos para hospitais de maior complexidade, como Hospital Estadual Mário Covas e Hospital Estadual de Serraria, que passam a ser responsáveis pela notificação.
Segundo o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, de cada três potenciais doadores, apenas um é notificado. Destes, somente 30% são utilizados como doadores de órgãos. Ainda assim, o Brasil é o segundo país do mundo em número anual de transplantes, sendo mais de 90% feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “É uma questão de ética médica e até humanitária. Muitas vidas podem ser salvas a partir da notificação que depende apenas do profissional médico”, analisou o diretor técnico do Hospital Nardini, Dr. Allison Takeo Tsuge. Para ser doador, não é necessário deixar nada por escrito, mas é fundamental ter comunicado à família o desejo pela doação dos órgãos. São os familiares que autorizam o procedimento.
Como funciona o sistema de captação de órgãos?
Todo paciente com diagnóstico de morte cerebral internado em hospital é considerado doador em potencial. A família é informada da possibilidade de doação dos órgãos. Caso haja consenso, é realizada uma série de exames para confirmar o diagnóstico. A notificação compulsória é efetuada imediatamente à Central de Notificação da Secretaria de Estado da Saúde, pela direção do Hospital onde ocorreu a morte. O trâmite deve se realizado tanto por hospitais públicos quanto privados. Atualmente há cerca de 12 mil pessoas na fila de espera por um órgão no Estado de São Paulo.

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